Maktub! Estava escrito! Esse BBB é seu, Marcelo Dourado.

Sim, eu assisto Big Brother. Não com veemência e não a ponto de votar em alguém, mas assisto. A verdade é que o programa – assim como política, futebol e religião - criou sobre si uma áurea negra que polariza seus defensores e detratores em duas frentes prontas a batalhar. Comentar o BBB então vira pecado mortal, faz do espectador um ser alienado e intelectualmente deplorável.

Eu (assim como Tico Sta Cruz) me despi desta visão intelectualóide e carrancuda sobre o reality show e me permito a curiosidade de acompanhar e analisar o comportamento humano sob pressão e sob vigia da moralista opinião pública brasileira. De uma coisa tenho certeza: não é nada fácil estar naquela casa e é preciso muita coragem para encarar o desafio. E ontem, após chegar da faculdade acompanhei a vitória, justa, de Marcelo Dourado.

Mas, quem é Marcelo Dourado? É um bruta-montes? É grosso? É deselegante? É homofóbico? É ateu? – Diria que é, ao mesmo tempo, tudo e nada disso.

Dourado, no jogo, personificou sua profissão, foi lutador. E mais que isso, viveu uma trajetória de redenção, percorrendo um caminho espinhoso, o mesmo caminho que, invariavelmente, nós tomamos. Como bem resumiu Biau, Dourado foi escorraçado por ser reincidente no BBB. Tanto os brothers, como o público, achavam injusto ele estar participando novamente, tendo uma nova chance, e não é difícil utilizar esta situação para fazermos uma analogia com a vida real. Basta olharmos ao redor para perceber quantos de nós esperam uma segunda chance e não tem a oportunidade, e quantos a tem, e muitas vezes não conseguem aproveitá-la por nossa culpa. Sim, na vida real existem muitos Dourados, que com brilho nos olhos são presenteados com segundas chances e nós tomamos o papel dos brothers e do público, atacando o passado das pessoas e isolando-as, tecendo comentários maldosos e duvidando de seu potencial. E só ficamos satisfeitos quando o alvo é atingido, quando conseguimos apagar aquele brilho no olhar, quando conseguimos “fazer a justiça uniforme”, concedendo a todos uma única chance. Só ficamos satisfeitos quando colocamos o outro no paredão.

Em seu trajeto, Marcelo Dourado contou com a sorte, a mesma sorte que todos almejamos, mas nem sempre conseguimos. O brother teve sorte ao ser escolhido por Josiane para entrar no programa e por ela ter imunizado-o na primeira semana. Teve sorte ao ganhar a prova de conhecimentos gerais, claramente direcionada ao grupo dos cabeças. Teve sorte ao receber o poder supremo e alterar a decisão do líder que o colocaria no paredão. Já diz o ditado “a sorte acompanha os campeões” e a sorte veio no momento certo, deu o gás necessário para o momento da virada, para a “cena” que conquistou o público.

Sentindo-se isolado dentro do isolamento, às lagrimas, Dourado confessa seus sentimentos:

“Sinto muito ter prejudicado vocês. Involuntariamente isso está acontecendo, eu me sinto rejeitado desde o primeiro momento. De repente eu estou assustado. Tudo aconteceu muito rápido para mim, eu estava na minha, estava trabalhando e apareceu essa oportunidade. Estou me sentindo sozinho, está sendo difícil. Dá primeira vez foi mais fácil, muito mais fácil. Eu tenho medo de como isso tudo está desenrolando, eu não consigo explicar. Eu não sou um cara mau, de repente é a minha maneira. Eu estou me sentindo muito sozinho, eu simplesmente não consigo me adaptar. Vocês estão em outra vibe, é difícil. Eu dou bom dia para as pessoas e ninguém responde e quando me sinto ameaçado, mostro as minhas garras. Só não queria que me vissem como uma má pessoa. Eu queria dormir esses últimos 11 dias. Agradeço de coração vocês terem trocado idéia comigo, pelo menos eu posso me expressar um pouco.”

Este foi o momento mais humano do Big Brother Brasil 10. Dourado não se escondeu atrás de homo-sexualidade, não se escondeu atrás de pobreza, não se escondeu atrás de um relacionamento fictício, ele simplesmente escancarou suas fraquezas, demonstrando toda a fragilidade do ser humano que é. Todos os caminhos citados, além de mais fáceis, seriam fórmulas comprovadas de sucesso, afinal quem não se lembra do professor Jean que ganhou com a bandeira gay, da Cida que ganhou por ser pobre e do Alemão/Max que ganharam através de relacionamentos. Dourado, porém, encarou o BBB de peito aberto, assumiu o papel de patinho feio, isolou-se, por vezes foi individualista e por vezes protegeu seu grupo e, acima de tudo, mostrou seus defeitos e seu teto de vidro. Foi duramente acusado de ser homofóbico, quando na verdade tratou Dicésar e Serginho de igual para igual, sem utilizar-se de dedos a cada discussão com os coloridos. Foi acusado de ateu, apesar de ter recuperado sua fé no hiato entre o BBB4 e o BBB10. Aliás, no próprio confinamento Dourado explicou a tatuagem: “O que tenho escrito no braço é uma marca do que passei. É uma falta de fé geral, não só minha, mas dos outros em relação a mim.”.

A vitória de Marcelo Dourado mostra que a opinião pública vem mudando, pois o brasileiro está cansado de assistir a finais felizes em novelas, enquanto só se fode no dia-a-dia. Mostra que a alienação popular está diminuindo e que a hipocrisia não será tolerada. E mostra a primeira vitória de um anti-herói no reality show nacional, um cara comum, sofrido, que fez tudo o que estava ao seu alcance para aproveitar a segunda chance que teve.

Por fim, a cara de atônito de Dourado ao receber a notícia de que era vencedor e milionário, não é para menos. Após um BBB4 que não lhe rendeu nada a não serem vaias e torcida contraria nas lutas das quais participava, após passar por depressão por sentir-se frustrado e desacreditado, após perder a fé em Deus, após largar tudo e apostar em morar na Nova Zelândia, passar fome e voltar ao Brasil para morar em um único cômodo na favela, em que momento Dourado imaginaria que a vida lhe sorriria dessa maneira? Em seu lugar, eu também ficaria incrédulo num primeiro momento.

Por que Marcelo Dourado ganhou?

Porque é um especialista na luta da vida e porque no jogo representou toda a luta do brasileiro, contra tudo e contra todos. Sua última frase resume tudo: “Minhas derrotas eu perco para ganhar, acho que sou vencedor hoje por tudo que já perdi” – É isso aí Dourado, meus sinceros parabéns.

A TV LCD e a Falta de Ética

Ética é um conjunto de valores ou princípios morais que definem aquilo que é certo ou errado para uma pessoa, sociedade ou organização. Ética, trata de uma observância não somente do bem estar individual, mas principalmente do bem estar das outras pessoas.

Ontem, o programa da Band CQC, exibiu uma situação que, infelizmente, é corriqueira no Brasil. Integrantes do programa colocaram um aparelho de GPS numa TV LCD e doaram à Secretaria Municipal de Educação de Barueri - cujo secretário, aliás, é irmão do prefeito -, mas o aparelho foi parar na casa de uma funcionária.

A reação de cada envolvido na falcatrua foi flagrada pelas câmeras do programa, e apesar de certa inquietação, não foi possível perceber qualquer tipo de constrangimento no semblante deles, seja o secretário da educação, seja a recepcionista da secretaria, a diretora da escola, a funcionária que estava de posse da TV, ou o tal “sintonizador”. A verdade é que hoje no Brasil a corrupção faz parte do poder público de forma intrínseca, afinal são tantos escândalos que tudo parece normal. A falta de ética se enraizou e não é mais exclusividade do alto escalão, pois se o grande pode o pequeno passa a pensar que pode também.

O que os repórteres Danilo Gentili e Rafinha Bastos fizeram ontem foi escancarar para todo brasileiro aquilo que já sabemos: é impossível para o cidadão de bem confiar nas pessoas que gerem ou fazem parte do poder público no Brasil. Tanto é que a “casinha” armada foi perfeita exatamente pelos repórteres já terem imaginado cada reação que aconteceria quando começassem a questionar o porquê da TV não estar na escola.

E não para por aí. O pior da noite foi a reação do prefeito da cidade - senhor Rubens Furlan - que, além de proibir a veiculação da matéria na última segunda-feira através de censura prévia, ainda desperdiçou seu direito de resposta atacando os integrantes do programa, chamando-os de “babacas sem talento” e referindo-se a Marcelo Tás como “careca babaca”. Meu caro prefeito, não adianta atacar o mensageiro, seu dever é simplesmente resolver o problema e cuidar para que não aconteça nunca mais. É pena que você queira se candidatar a vice-governador do Estado, em você muita gente já não irá votar.

Parabéns aos integrantes do CQC por mais essa prestação de serviço público ao povo brasileiro, que deve acordar para realidade e assumir de vez uma postura ética. Não podemos deixar a falta de caráter de nossos políticos influenciar toda a sociedade.

E para o prefeito Rubens Furlan - que conhecia somente três babacas do CQC – faço como fez o Danilo Gentili se apresentando como o quarto babaca: “Prazer, meu nome é Everton Senna e eu sou o quinto”.